sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

é do deserto que vem o vento mais fino
e a fuga que é chegada e desvario
aqui o desembarque na noite fria
só com as estrelas por companhia

aqui, a fina fragrância das dunas
as algas secas dos meus braços
e as fontes ocultas
outros climas, são do deserto
tal que a chuva e a bolina

conheces o caminho
ficaram rosas e serpentes,
pegadas fundas do passado
que ainda encontras vivas

vem ver-me no deserto
aqui há sal que nos torna mais puros
e um vinho que nasce mais cedo
antes da vindima, o vinho
que guardamos para o futuro

manda-me uma carta que
me ponha os olhos longe
e os braços como caminhos
e nos aproxime os lábios
tentadoramente devagar

aqui no deserto produzimos a miragem
fugimos num cavalo, em pregas de cetim,
bebemos orvalho, nas noites frias sem fim
mil e uma verdades te guardo sem dizer
mil e uma formas de solidão no fundo das areias

sepulto-me, na fina poeira da noite

sem ti, a escuridão e a tempestade,
são como um pássaro negro e esfomeado
que passa e me bebe os sentidos - nada
é só vazio

 sem ti o deserto não tem caminhos
nem escarpas de altas árvores de rapina

não há mistério num lugar
onde as mãos não se unam
para juntar o tempo e o corpo
para fundir num só momento
a poesia e o mais íntimo sopro