sexta-feira, 8 de junho de 2007

Cabelo ao Vento



desemboquei neste poema à beira-mar
navegando nas palavras naufragadas
e uma onda inquieta no horizonte
rouba o teu corpo ao vazio da madrugada
e há um silêncio de talhas entornadas
rosas adornando esta massa solta ao vento
os cabelos que afagavas ternamente
estes búzios encrespando os seios sedentos
este intimismo e a boca alucinada de desejo

sinto o perfume do meu cabelo nos teus dedos
o roçar dos teus dedos nos meus lábios secos
a vela, o mastro e o teu velejar sedento
quando amar-te era deixar que te perdesses
no aroma fresco do meu cabelo ao vento

mas o mar conta naufrágios e segredos
e o nosso romance, amor, acabou cedo...

já o farol incendeia estes cabelos revoltados
como se um magma ardente os tivesse aflorado
e este poema fosse a crina de um cavalo
roçando o linho do meu corpo afogueado

cortarei meus cabelos para que o vento os leve
talvez fuga, talvez rodopiar não chegue
para espalhar o seu perfume nos teus dedos
como barca atravessando memórias de mar
para te dizer, amor: para quem ama o impossível
o regresso nunca entardece...
Por isso hoje acendi esta fogueira
no areal dos meus versos ...
e o meu corpo é cetim perverso que a noite adensa
a nossa ceia esfria, o desejo à minha boca aflora
e a ausência, meu amor, rasga com dentes de fera

Corpo, ondas soltas na maresia do desejo.
Ausência, a morte atenta que me embranquece o olhar...
Prazer, soltar ao vento o corpo e os cabelos
e espalhar em ti o meu perfume de mulher...



de uma minha heterónima...
(apeteceu-me...)