dia em suspenso
doce penumbra de chuva
e de silêncio
já pouco há que não saibas
tens tudo
habitas dentro
em frente, ao lado,
ainda mais dentro
assusta-me ser tão
forte a permanência
e eu que guardo
tão recatada
a minha circunstância
diz-me se vês daí o mar
porque eu não vejo
recolhe os teus olhos
para dentro
e sê meu espelho
aquilo que vês
é o lugar onde o tempo grava sulcos
radiosa passagem minha pela vida
agora extinta
cumpro-me com um sorriso
mas não há mais vida nestas veias
apenas a produtividade me cansa
não os anos e o peso
das coisas sobre a espinha
sempre foste uma fragrância
à noite sobes a palavra até ao cimo
e eu sinto uma presença
quando adormeço
não sei medir a distância
porque sempre foste um verso
e o verso é um som
que não tem voz, nem rosto
não existes
para além dos meus sentidos
existindo sem eu saber por que nasceste
nem porque achaste o meu mundo
tão improvável, tão pouco apetecido