quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

o tempo


hoje é apenas mais um dia,
ainda que o calendário me diga
que é o primeiro

de uma série de outros
assinalados num breviário
matematicamente certo
a que chamam calendário

mas não há tempo no deserto
só há momentos, só há astros e
eventos climatéricos
chuva, ou vento, ou seca
ou refrigério

os homens marcam o tempo,
para não se perderem nele
selam o passado, balizam o futuro
cronologiam-se para não se esquecerem
do que foram
para esperar a morte
para marcar o amor
para medir o sangue, nas batidas dos segundos

mas o tempo escapa-nos
expande-se como um rio
para lá de todas as medidas

além, vês?, éramos nós um dia
além, noutras manhãs fomos nós também
além marcámos um beijo
uma cereja sorrindo

quando foi, sabes dizer-me?
como se mede o que captamos nos sentidos
que tempo e medida se aplica
ao que nunca foi objecto e pedra
marco e guarida?

ah, amor meu, se o pudéssemos assassinar
com estas mãos caladas
o tempo e as suas pegadas?

(Este ano vem vestido de algodão e bruma: branco e inocente, misterioso e puro, este ano é um presente que desembrulho com volúpia... Começar contigo um mundo, novo selar o cavalo branco, saltar para lá da bruma e encontrar o teu rosto o teu murmúrio numa manhã qualquer de Junho...)


Bom dia, meu amor!