quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

letargia

tenho de apagar o mundo
neste tempo que ora ocupo
ser apenas corpo, sem alma,
sem pensamento e sem espírito

tenho até de apagar a noite,
neste tempo que decorre
para que a escuridão me leve
onde nada é vulto ou forma

que venha silêncio e morte
letargia, fogo ardido
urtigas, sombrios fagotes
urros de fera e vazio

que nada sinta o desejo
que não sintam os sentidos
o sentir solto e oprimido

prelúdios pálidos de frio
as palavras que hoje uso
aqueço-me em ti,
doce amigo
mas meu corpo é frio jazigo

quero de ti fuga e fogo
prece, murmúrio, emoção
na neve do paraíso

um dia iremos, um dia seremos idos
um dia teremos sido
sementeira já colhida
pasto sem restos de espiga
ervas secas, sol sem viço

quero depressa o eterno abraço
a paz das lajes esquecidas
que nem uma lágrima só trespasse...
nossas palavras perdidas!

boa noite, amigo querido.
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