neste tempo que ora ocupo
ser apenas corpo, sem alma,
sem pensamento e sem espírito
tenho até de apagar a noite,
neste tempo que decorre
para que a escuridão me leve
onde nada é vulto ou forma
que venha silêncio e morte
letargia, fogo ardido
urtigas, sombrios fagotes
urros de fera e vazio
que nada sinta o desejo
que não sintam os sentidos
o sentir solto e oprimido
prelúdios pálidos de frio
as palavras que hoje uso
aqueço-me em ti,
doce amigo
mas meu corpo é frio jazigo
quero de ti fuga e fogo
prece, murmúrio, emoção
na neve do paraíso
um dia iremos, um dia seremos idos
um dia teremos sido
sementeira já colhida
pasto sem restos de espiga
ervas secas, sol sem viço
quero depressa o eterno abraço
a paz das lajes esquecidas
que nem uma lágrima só trespasse...
nossas palavras perdidas!
boa noite, amigo querido.
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