tenho as palavras coladas aos ossos
submersa na tempestade de uma areia lisa
quente e deserta
podia ter aproveitado para morrer
para mim mesma, como bicho da terra
mas tanto neste silêncio me encripta
a voz viva e volúvel que ainda vibra
segredos que se impronunciam na carne hirta
a porta entreaberta,
desculpa mas não me podes mandar executar a fala
ainda estou viva, ainda a pele me avisa de visões
vivas e válidas que hão-de ser vividas
no vale de todas as venturas, talvez um dia
podias ter desbotado, perdido a tinta toda
sem uma lágrima
então o luto não teria sido lume
nem a luta arderia nas minhas mãos
não haveria passos a dormir
nem gestos, nem flores reunidas nas células
nem a chuva de luz das manhãs primeiras
eu ter-me-ia extinguido como uma espécie absurda
tu terias consumido a liberdade como uma peça de fruta
talvez uma reverberação antiga te fulminasse ainda
mas seria apenas uma traição do destino
que nunca cumpre o que prometeu à vida...
e como vês vejo-me rendida
por muito que me agrestes e me arborizes
fundas são estas minhas mãos ternas raízes
que te enlaçam docemente
meu amor, meu adorado, meu príncipe...
semeaste-me, num vaso pequenino
era apenas uma palavra que medrou num sorriso
amai-te logo, amei-te sempre, amo-te ainda
ofereço-te ocasionalmente a virtude válida do meu busto
hermético, fugaz, impreciso
talvez pomba e paixão, teimosia e vício
agora só sei que se tu existes,
e enquanto me existires, eu também existo...
submersa na tempestade de uma areia lisa
quente e deserta
podia ter aproveitado para morrer
para mim mesma, como bicho da terra
mas tanto neste silêncio me encripta
a voz viva e volúvel que ainda vibra
segredos que se impronunciam na carne hirta
a porta entreaberta,
desculpa mas não me podes mandar executar a fala
ainda estou viva, ainda a pele me avisa de visões
vivas e válidas que hão-de ser vividas
no vale de todas as venturas, talvez um dia
podias ter desbotado, perdido a tinta toda
sem uma lágrima
então o luto não teria sido lume
nem a luta arderia nas minhas mãos
não haveria passos a dormir
nem gestos, nem flores reunidas nas células
nem a chuva de luz das manhãs primeiras
eu ter-me-ia extinguido como uma espécie absurda
tu terias consumido a liberdade como uma peça de fruta
talvez uma reverberação antiga te fulminasse ainda
mas seria apenas uma traição do destino
que nunca cumpre o que prometeu à vida...
e como vês vejo-me rendida
por muito que me agrestes e me arborizes
fundas são estas minhas mãos ternas raízes
que te enlaçam docemente
meu amor, meu adorado, meu príncipe...
semeaste-me, num vaso pequenino
era apenas uma palavra que medrou num sorriso
amai-te logo, amei-te sempre, amo-te ainda
ofereço-te ocasionalmente a virtude válida do meu busto
hermético, fugaz, impreciso
talvez pomba e paixão, teimosia e vício
agora só sei que se tu existes,
e enquanto me existires, eu também existo...