domingo, 28 de dezembro de 2008

murmurações

entre estas árvores dobradas sob a chuva
seus galhos dóceis a acenar no escuro
a minha voz é mais um som da tempestade
próxima do crepitar do lume
e a palavra silenciosamente ruge e arde
indiferente ao negrume

e penso na lucidez dos meus enganos
como me deixo iludir com o que imagino
como me busco no traçado do teu rumo

e já não sei que sou nestes dias de Inverno
se uma voz sem veias nem traqueia
no fundo das areias do deserto

se alguém que se repete
num outro que nunca houve

se uma voz amante que é audível
e distinta, por entre a surda tempestade
quando tudo nos é distante
mas a intimidade nos invade

quando esta chuva nos passa pelas veias
e tudo se liquefaz num silêncio lento
é quando as minhas dúvidas se escoam
e o teu olhar me surpreende

então a noite é uma claraboia para as estrelas
e os nossos corpos reúnem centelhas
planeiam o infinito de mãos cheias
revelam mapas de ventura
quebram nus todos os selos

a intimidade é como um novelo
um segredo numa roca e um fio inteiro
que os lábios desdobram prazenteiros

boa noite, meu amor...
estarás aí?