terça-feira, 14 de outubro de 2008

mais um banal grão de areia...

Le desastre - 1942 - Maria Helena Vieira da Silvaa





eu hei-de amar-te
no meu mais íntimo rubor
hei-de eu esperar-te
virás espigado
quando esventrares
nos confins da dor
e do prazer
o colmo do telhado
a planta da casa
que tacteias cego
de tanto a ver

eu sei amar-te
nas noites de invernia
como ao tronco
que há-de ser fogo
ao caule da flor mais fria
na mais ínfima concha de geada
no mais circular dos silêncios
eu hei-de amar-te
e será esse o amor mais intenso
porque nos acumula
na memória
a demora íntima
do tempo...