terça-feira, 2 de setembro de 2008

lume de poeta

como uma ave vermelha
ou talvez mais garrida
a ave do paraíso é a poesia
que forma na boca o beijo
e a palavra que nos liga

rimada, rósea ou lívida
toda a palavra da alma é ave
que voa num segundo a vida

todo o homem tem carne de poeta
vísceras de poeta
lume de poeta em seu furor
em seu viço
ou sua queda

todo o silêncio forja poesia
íntima gargalhada, a palavra brota
pelos olhos
crava-se nos lábios e aferrolha
o sorriso na metáfora vazia

toda a invenção da vida é poesia
eu pinto o palco e sento-me
na coxia da segunda plateia

leio-me na agudização do corpo
ou da saudade
ou da intensa fantasia
aumento-me na espera e na demora
abandonei-me
para me encontrar

sou maltrapilha quando quero
rosa aguçada na busca do amor
folheio-me nos versos
controversa e fria
ou frágil na força do ser

mas sou sempre eu
vieira nacarada
partida na areia em redor
palavras como aves
voam pelo sonho
entre e verdade e a mentira
no deserto em que me ponho


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