e subitamente a tarde parou. o mar à minha frente ficou estático, as rochas foram de repente mais pedra. as gaivotas planaram longamente, o céu permaneceu na mesma nuvem negra antes galopante. na marina os barcos deixaram de ondear os flancos lapidados, a água, da cor do céu, pareceu encorpar a tábua celeste, num acto de amor armado no silêncio. também não ouvi carros, nem vozes. o meu olhar escureceu, ausente. as pessoas, não sei que fizerem, porque não as olhei. apenas soube murmurar: olha como tudo parou. verdade, ouvi. mas a resposta trazia já, na sua extensão de ruído e movimento, o fim de tudo. a vida mexeu-se ao meu redor. eu continuei, mas pareceu-me que uma parte de mim pertencia àquele momento de pedra absoluta.
boa noite, meu amor distante...