a poesia quando vem
é como uma corda de guitarra
que cantante se distende
e geme para dentro
ressonante e secreta
a poesia é uma asa alta
de palavras rasgadas
pela dor
ou pela portentosa ferida
do amor
rimas cansadas
lentas rumorosas
avançam na noite
até aos teus olhos
luminosamente doces
dourados cabelos
minhas mãos desfiam
na terna rima do teu ser
tremo na presença do teu olhar
palavras em fuga
permanecem mudas
na rotina
inerente ao acto de dizer
não falarei mais de amor
mas sentirei
o alcance discreto
do que outrora foi a tua mão
sobre o meu peito
os teus pés sob o meu tecto
o teu corpo sobre o meu
o sopro sincopado
do teu fôlego no meu leito
a memória descritiva da pele e do prazer
ogiva e lança
a noite que era uma corda
e só nós dois sabíamos tanger...