temos um quarto crescente onde nos tacteamos no auge da Lua. temos um longo tapete de letras férteis como lúpulo, temos a pele translúcida e levantina temos tudo nas mãos do presente e esta diacronia discreta que fatiamos ocasionalmente. temos o lugar da raiz bem fundo no peito, temos medo do lugar da frente, temos os sonhos semeados no fundo dos olhos e havemos farpas fundas na garganta, um sortilégio canta em nós a entrega distante intermitente, faróis acesos, palpitantes, vigentes, dança de abelhas e de insectos, secretas ondas emitidas entre o sol e a terra nas instâncias da noite. e porém, ainda não sei onde me tocas quando me entras, nem onde me cinzelas as palavras quando as broto nuas no ventre. falo-te hoje com o pudor da distância, a prudência das paredes, a delicadeza da minha fibra íntima de mulher. neste quarto distanciado de nós mora tudo que fomos e o que deixámos de ser. seria melhor morrermos de um ápice, sem nos assistirmos e monotorizarmos numa escala impiedosa. tenho saudades de sentir. e a dúvida continua cravada na voz, como um pico trazido pelo vento suão do deserto. terei morrido sem saber, ficando apenas a memória do meu desejo vivo no teu corpo que nunca tive, ou morreu-me a esperança de te ter e ficou um lugar sentado, onde tomou lugar o teu nome e a minha impassibilidade? Ajuda-me a compreender...
a noite