terça-feira, 12 de agosto de 2008

como uma hera

agora na íntima parte do nosso mundo
ignoremos, meu amor, o vento que vem vindo
porque é funda a rocha que nos cobre
nesta sepultura onde a vida nos reúne

podem ser longas as noites do teu nome
leio de alto abaixo o teu perfume
e o tédio que cresce na tua cama
como uma hera, quisera enredar-me nela
nas sete partidas do teu corpo

e prender a tua carne em minhas folhas
a viril clorofila do amor neste poema
quisera eu no meu ventre vê-la
e de enleios fundos e fatais
ser o pulsar da noite e dos vendavais
esses que escutas meu amor
nos teus serenos serões estivais...

em vez do vento vem ao teu peito
o vagalume de um beijo
o vislumbre húmido e fresco
da espiral febril do desejo

desasossega, amor meu, o teu sossego
deixa que tudo nos reverta
o corpo, a funda escalada do sangue
até ao ventre alto e rarefeito
onde com a tua voz e teu veleiro
hoje me fundeias mar adentro!

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