sonho contigo agora mais. a minha mente vadia busca o teu aconchego durante o sono. sei que me reúno a ti em retalhos de sonhos que não chego a rever durante o dia, como se a fita magnética apresentasse rupturas, saltos e cortes de som aqui e ali. imprecisa, a noite dimensiona a extensão do meu alcance, mas a única coisa que me devolve é a sensação de ternura decantada do teu peito, despida da ternura vaga da tua pele. memórias quentes de ti. desculpa se te aprisiono a pele, se me acolho ao tufo rubro do teu peito, e ainda mais, desculpa se nada me ruboriza, como quando outrora me doava púrpura e escondíamos cuidadosamente o rubor, afogueados, eu ladina e tu a fingires um distanciamento maior. que nos falta agora para aproximar o amor da pele e levar a pele ao rumo bionívoco do amor? nestes dias de repouso,por vezes a rasar o tédio, ou nos dias de luta diária para coexistir com o mundo, a que pertenço cada vez menos, a única coisa por que tem valido a pena continuar de pé é o amor. e isso envolve a capacidade de acreditar fortemente que para ti também existe um vínculo intenso com o amor e com a vida, através de mim. não te afundes, meu amor, num lugar qualquer em que me sejas inacessível. vês como para mim tudo é tão simples e linear? convém-me a fala singela, o novelo em desiderato da voz, a lisura do olhar que olha e se cruza em mim, como pernas que ternamente se juntam e se envolvem na expressão mais pura do amor. e a tua boca, fresca e feliz, não deixes que se seque à míngua de uma palavra e que essa palavra possa crescer para mim... "nós" somos a expressão da minha vontade de que permaneças, "eu" sou um lugar no mundo que só tu frequentas, "tu" és a atmosfera que respiro, quando me falta o ar e a vida. quero-te muito, meu amor fulvo e casto, como um cardo aceso ao sol ardente deste deserto das nossas vidas, porque ainda não pudemos encontrar juntos o mesmo presente.