sábado, 12 de julho de 2008

sucumbimos

a janela fechou-se, a serra por dentro, num murmúrio incessante, como um chamamento de almas. a penha serrada ao longe, num plano mais distante, foi desaparaecendo com o sol, escureceu, escureceu, formou-se uma goela negra onde o meu coração se perdeu. sempre as penhas me chamaram, antes quando o exílio nos habitava e agora que exilados ficámos. fechei-me nas penas do edredon, a sentir no corpo os lençóis do Egipto, a camisa de seda bordada comprada para o prazer único da pele. a minha. e fiquei sem respirar a pensar que me devia levantar e escrever-te, contar-te das coisas que vi e senti no fundo mais íntimo e requintado do paraíso, não o paraíso mundano pago pelos cartões de crédito, mas o paraíso das sensações que poucos querem sentir. e eu sei que tu queres. mas subitamente achei que talvez já não quisesses saber, cansado de esperar, com uma mão mais fácil e mais próxima que a minha, uma mão quente e real. sucumbimos a tudo, até a nós próprios. e eu deixei que sucumbíssemos os dois, ontem. eu empenhada em resistir-te, tu no mais absoluto retiro de qualquer palavra. mas eu senti-te. como senti a noite calada da serra a serra irada do teu mundo, a força analgésica do meu sangue. sucumbimos...

hoje tenho frio, despertei com esta humidade da serra presa aos ossos, busco o sol em cada recanto, vou perder-me num lugar qualquer deste paraíso a olhar o distante infinito, entre o respirar das árvores e os momentos em que o meu pensamento foge para ti, transido e só, como um sopro de vento. e estas são coisas que não contam para arregimentar o amor, apenas o buscam. mesmo onde não existe.


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