dispo-me todas as manhãs do sonho
quando a camisa me cai aos pés
o sonho é sempre entre a pele
e o tema é um impreciso local
onde sabemos ser felizes
toda a razão do sonho está nos sentidos
despertos perdem todo o arrojo vivido
teria de voltar ao sonho
para te contar o sucedido
e talvez a história do sonho
seja o desejo desperto de ter sido
mas já luz que a manhã me envia
é um espanador de lenta magia
desprendo-me de ti, de uma outra vida
com o esplendor de uma serpente
erecta na erva macia
ainda me goteja o corpo
do assombro
fecho as pernas para te demorar em mim
uma gruta imprecisa de volúpia
um resumido reino de languidez
não sei como o amor me procura
mas se puderes vir aos meus sonhos
segreda-me as palavras que às vezes
extravias
vem vestido de ventura
planar sobre os meus seios
a asa rubro do teu beijo
e conjura firmemente o mundo
para que nos enclausure como lobos
nas arcas rubras do meu corpo,
entre a infinita ternura do momento
e a lenta libação do amor por dentro
boa noite, querido,
leva-me contigo...