segunda-feira, 28 de julho de 2008

a ave da poesia


imagem trabalhada por mim a partir desta: obrigada ao seu autor pelo empréstimo.


a nave de um corpo lento cravado na paisagem
alta e vegetal a pele é uma página opaca
neste tempo em que nos mapeamos a alma
neste silêncio que é relevo da palavra

soube logo, mas só hoje consigo dizê-lo:
transportamos todos o vagar da fala.
dizer é como confiscar o próprio empenho
em sermos íntegros e inteiros
na verdade em que nos cremos os únicos e os primeiros

mas não tem de ser assim
podemos ser pó apenas e só nos caminhar a morte
no seu macabro apaogeu: as palavras serão batentes
de uma porta que só ao destino cumpre abrir

por isso a poesia é como uma ave
nos seus chilreios. inintelegível, mas exacta
metricamente é uma pauta
no seu sentido um mistério...

eis porque escolho a poesia para dizê-lo,
mas as minhas asas são curtas
e tudo que arborizo com os lábios
é um sorriso que te busca inteiro
nestas palavras mero câmbio
de um amor que se apunhala por dentro
enquanto inala cada sílaba do vento...

mas eu digo-o e mando-o timbrado
o meu sangue como selo:
o amor é como um lugar de paz
quando dele nos enchemos...

e sem pressa prossegue na paisagem
o velho sonho, a velha busca, o velho mundo
mãos que já foram asas da poesia
e são agora areia e arbustos
cicatrizados de espinhos...

e nós vamos como rios.


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