sexta-feira, 20 de junho de 2008
.
só estou bem onde não se propagar
o ruído acéfalo das pessoas
ouço-as como se cada palavra me ocupasse
o pouco espaço que me resta
movem-se os lábios e os risos
e eu abrigo-me entre cílios
desprevenida de tudo
desinteressada
meneio a cabeça, com um ara alegre ou triste
mas não me interessa, já disse
quero que me deixem só comigo
não sei ser exterior
só por dentro me mostro
não no que digo, mas no que penso
e se ninguém me lê os lábios do olhar
é porque não diz
e eu
morro presa dentro de mim
sem nada para dizer a ninguém
ou alguém a quem o meu nada absoluto
possa interessar
não sei se sei ser espirituosa
ou se arraso uma assembleia
com o meu fino humor
desconfio que não pertenço onde pertencem
as pessoas, seja qual for o seu lugar
e o brilhantismo do que pensem
desconfio
que talvez não pertença a parte alguma
nem a mim mesma, nem ao meu modo de pensar
e sei que calo a minha voz
pelo puro prazer da inércia
pelo neutro pendular da existência
sou autista e sou teimosamente só
quando à minha volta a ebulição aumenta
começo a sentir o alvoroço das vozes
espetam-me facas nas orelhas
não me interessa ouvi-las
no seu distante disparo
as pessoas não me lêem os olhos
e eu não sei convencê-las
das minhas flores rente às trincheiras...
..