sábado, 21 de junho de 2008

mar e amar


prodigiosa terra de mil flores, o mar é o líquido amniótico da vida e do amor. o mar é o sonho e a viagem de quem for capaz de o navegar ao longe, sem amarras, nem medo da fúria mansa das marés ou temporais. é esta manhã cristalina, arrebatada nos corais, rumorejante e calma, lisa nos areais, já quente nas rochas lisas, já doce nos lábios e nas fendas da falésia, já terna nas pálpebras acessas e nas cavernas baixas que a onda aconchega. o mar é uma mão cheia de sal no corpo, um fluxo alegre e jovial que rasa dentro, limpa e reluz e purifica. o amor espalhado no corpo e o mar que amansa a fímbria do ser e a onda que em festa asperge e sara o que a vida deixou em aberto. hoje quero amar assim a vida, com o mar perto, tão perto que a minha pele e a espuma se confundam e eu me espalhe na maresia, como se fosse sal e a minha substância se agigantasse no horizonte. em forma de esparsa neblina. hoje quero ser tudo, menos gente, levem-me o sentir, obnubilem-me os pensamentos, que o amor na sua ausência me não atormente. quero ser o mar e a sua palavra mansa e reluzente. quero aprender a ser acaso, movimento cadenciado e cadente, rusga de amor nas pedras e nos búzios, morte no areal e a fusão enfim final com a terra, no fundo mais fundo da bacia do rio que me espera.