aqui onde só a minha voz se apreende, aqui a sós com a noite e o lugar secreto onde te tenho, aliso o colo que tocas suavemente, quando me beijas com as palavras e te acrescentas visível, autêntico na voz e na água, demorado. e é assim que te entendo e te busco, é essa calidez de voz que te autentica e me liberta do esmo embrutecido de te sentir nas mãos verdes do mundo, enquanto par me juntar a ti no fundo de uma tarde, me aparto de tudo. é esse sopro de água que os meus lábios absorvem directamente dos teus, meu querido, com a sede antiga da desertificação da vida. tu não te ocultes, tu não te ofusques, permanece-me no ouvido, fundo e por dentro, todos os dias, com a voz que sabes esvoaçar na minha pele, como um doce tormento. eu sei que é apenas poesia, eu sei que são apenas palavras, mas não conheço beijo tão profundo na alma, meu amor, nem conheço alma que não te contenha como se tu fosses esse lugar sem nome e sem ti eu o perdesse.
as noites são tranças longas e lentas que desfio em tua espera, sem saber o que espero, mas querendo ainda esperar, tentando de novo a névoa dos caminhos ébria de te ver surgir, frágil e feliz, alto na tua ternura que sabes abrir em flor para me sorrir. assim, com a polpa toda da razão e a comisura dos lábios erguida para a luz.
ultimamente as noites são demónios que me assolam, neste efeito de transfusão entre nós dois. sonho com ilhas condenadas de onde todos buscam fugir, mas onde nos deixamos ficar enredados na indecisão. partem os barcos todos, são salva-vidas que vieram resgatar os ilhéus. mas eu fico, porque te sei lá e não te acho para te salvar. ou te ter. são outros sonhos mais imprecisos, mas todos me extenuam. e é tão aguda a agulha da tua ausência. às vezes não te falo só para não sentir a pedra vazia do teu nome e da tua palavra. e assim a solidão é a tua ausência. já não é a antiga forma de me incomunicar com o mundo, agora tu és a minha solidão, porque comecei um dia a querer dar forma ao amor e agora o amor tem de ter a tua forma, a marca indelével da tua doçura e a tua doçura é o pomar que me alimenta, doce fruto do meu coração...
gostava que me contasses os teus sonhos num pergaminho dourado, dentro de uma garrafa de solidão a boiar por aí. gosto de te autenticar a voz, como um torvelinho de alvoroço a tua voz abrange-me, inclui-me, indulta-me em ti, devagarinho, como tu te indultas em mim. e ficam perdidas todas as palavras e carícias dos minutos que se arrecadaram, já nem recordo bem porquê. hoje mando-te esta carta, o suave lume dos meus dedos, a mansa solidão das minhas mãos, que são tuas, como o meu tempo e os sulcos da minha voz. teus, como o corpo que te guardo e o jardim que te cultivo, o deserto que te aliso. meu amor. e cada vez que o digo, a noite cresce cá dentro com o impulso da descoberta. tu. e estás aí, na trincheira da minha porta, de braços pendentes, depois da tempestade. se atravessaste o meu deserto e vieste, então, não terá sido em vão que deixei partir os barcos de resgate e por amor te permaneci... tua, nua, carente, invidente, fêmea de ti.
boa noite, meu terno amor
as noites são tranças longas e lentas que desfio em tua espera, sem saber o que espero, mas querendo ainda esperar, tentando de novo a névoa dos caminhos ébria de te ver surgir, frágil e feliz, alto na tua ternura que sabes abrir em flor para me sorrir. assim, com a polpa toda da razão e a comisura dos lábios erguida para a luz.
ultimamente as noites são demónios que me assolam, neste efeito de transfusão entre nós dois. sonho com ilhas condenadas de onde todos buscam fugir, mas onde nos deixamos ficar enredados na indecisão. partem os barcos todos, são salva-vidas que vieram resgatar os ilhéus. mas eu fico, porque te sei lá e não te acho para te salvar. ou te ter. são outros sonhos mais imprecisos, mas todos me extenuam. e é tão aguda a agulha da tua ausência. às vezes não te falo só para não sentir a pedra vazia do teu nome e da tua palavra. e assim a solidão é a tua ausência. já não é a antiga forma de me incomunicar com o mundo, agora tu és a minha solidão, porque comecei um dia a querer dar forma ao amor e agora o amor tem de ter a tua forma, a marca indelével da tua doçura e a tua doçura é o pomar que me alimenta, doce fruto do meu coração...
gostava que me contasses os teus sonhos num pergaminho dourado, dentro de uma garrafa de solidão a boiar por aí. gosto de te autenticar a voz, como um torvelinho de alvoroço a tua voz abrange-me, inclui-me, indulta-me em ti, devagarinho, como tu te indultas em mim. e ficam perdidas todas as palavras e carícias dos minutos que se arrecadaram, já nem recordo bem porquê. hoje mando-te esta carta, o suave lume dos meus dedos, a mansa solidão das minhas mãos, que são tuas, como o meu tempo e os sulcos da minha voz. teus, como o corpo que te guardo e o jardim que te cultivo, o deserto que te aliso. meu amor. e cada vez que o digo, a noite cresce cá dentro com o impulso da descoberta. tu. e estás aí, na trincheira da minha porta, de braços pendentes, depois da tempestade. se atravessaste o meu deserto e vieste, então, não terá sido em vão que deixei partir os barcos de resgate e por amor te permaneci... tua, nua, carente, invidente, fêmea de ti.
boa noite, meu terno amor