temos segredos inoculados nas palavras, sim, abriste com um dedo distraído a ferida que tanto anteparo no esquecimento. cega, tão cega sempre na ranhura do teu nome, na secura da tua voluntária ausência julguei que te encontrava, mas era apenas o fundo ser doutro ser que me captava na pose que de amor então assim julgava. mas não eras tu e, agora que sei que és, ainda assim não te conheço sendo... na verdade, nao sei quem és, apenas sei como és. abordo o teu mundo, pela tua mão que me contrai nele, mas o teu mundo não é deste mundo e eu temo-o... o teu mundo é o meu equívoco, a redoma onde te prendes e descobres mais vezes que não existes. o mundo que constróis de cristal para ser mais efémero e resistente, um mundo que partes facilmente, quando tudo se estilhaça uma vez e outra dentro. então, como não foste, nunca te ficou o resíduo a prova consistente, o fole que insuflou paixão, a gota de sangue pisado, o sal onde guardaste a carne, o corpo que te presenteou com o prazer como um novelo. não, não há fios que te prendam ao mundo onde branqueio os meus duros dias, vivemos na pirâmide da satisfação e eu estou tão longe do cume que frequentas... nunca foste tu, nem quando não eras, nem mesmo quando te sabia sendo, e agora que sei o que a sombra te insuflou, e como o recordas e contemplas, mirro o meu corpo de vergonha e apenas peço que compreendas... esconde e esquece, rasga, arquiva, oculta, não quero sequer pensar que a cegueira e imprudência me dispersaram em miríadas de plasmas, a minha vida madura. rasga, cospe, pendura, mas não te me ocultes, como um ocaso sem sol, um homem é um nome, mesmo que um nome não seja o homem que presumes...