terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

areias idas


pranteiam mil virgens as areias idas
neste deserto de vidro virado a ti
areia incandescente dourada melodia
assim um dia te nasci
cega e muda e surda
uma haste de inocente jasmim...
.
ergo agora um hino de silêncio
ao Deus Sol que nos unia
no mesmo ímpeto de vida
que tudo nos prometia
portas abertas, presianas corridas
caravanas voláteis, tapetes de guarida
antes de sabermos que afinal o istmo
para lá das dunas
guardava as nossas vidas
nuas, ínfimas, inoportunas...
.
desígnios dos astros
uma serpente sagrada nos nutre o peito
e os passos partilham as páginas do absoluto
que nunca são lidas no altar dos desejos
eu sei que não existimos
neste circo de arena móvel
fazemos de conta que somos acrobatas
no mastro mais elevado dos sonhos
caímos sobre a rede da fragilidade
estrelas ficaram vincadas no tecto de lona
outros voos intentamos para alcançá-las
em versos revigorados alados de penas
mas, meu amor, eu diria
que não há deserto maior do que sonhar
o que sonhámos um dia...
.
águias somos
aves altas e feridas
há um voo que intentamos
sobre os sagrados rochedos da vida
tanta a tormenta deste subsolo de fadiga
que quanto mais nos elevamos
mais o desejo nos instiga...
a modelar o sonho na vida
com um cinzel de esperança
puro veneno aprazível...
.