quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

dias de ouro


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os beirais que o sol inclina
as telhas ténues certinhas
onde os pombos tão plácidos
alinham suas andanças

sou eu que contemplo o mundo
muda a meada da esperança

douradas manhãs de peixes
palavras louras na trança
é tanta a luz que me dança
nos meus olhos em deleite
que juraria ver no céu
uma adornada serpente
onde o sonho se passeia
aos olhos de quem o sente

Primavera em minha saia
brisa vinda da nascente
uma fonte antiga lavra
os sulcos do amor presente
e a cascata que ocultamos
por nós espera calmamente
quase em fio suas águas cessantes
por nós ainda murmuram
os beijos de antigamente...

meio-dia e o mel do olhar
em verdescentes lembranças
uma serra em verde semântica
tu e eu - e a aragem em chamas
mãos que não se tocam
olhares que se ocultam
num coração que nos suplanta

renúncia, palavra branca
ave que não voa, nem se levanta
resta-nos imaginar o que a cascata chama
seiva, semente, seara intensa e serena,
a crescer no corpo que se aproxima
para o abraço que se entrança
mas, ah, que vãs quimeras
esta dança do sol sobre meras telhas
estes dias de ouro e zumbidos breves de abelhas
acendem memórias leves, brisas louras
e ligeiras...