quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

vai partir a barca bela

vai partir a barca bela destes laranjais em flor
esponsais no brejo da alba breves beijos tentações
sereias olhos que espreitam a barca bela passar
erva doce, dormideira despedem os lábios fatais
frescas falas no ginjal, bocas de atormentar
a barca bela que nasce na funda flor do olhar
coutadas despem as mãos no seu ermo tentilhar
donzela que assim se entrega ao ver a barca passar
ao seu moço marinheiro moreno do alto mar
ah, são partidas de um cais que nunca mais voltará
partidas da barca bela por terras de naufragar
velejam olhos com ela longínquos no seu trilhar

vai partir a barca bela nas tranças azuis do mar
nos laranjais sobra o sol onde o amor não foi demais
fica a donzela a tecer seu enxoval de luar
que o marinheiro tão moço um dia lhe há-de gabar
nove luas magoadas e a barca bela a enfunar
tão magra a esperança de vir tão cega a fé de esperar
e as tardes parecem preces do corpo amado a voltar
tão breve o tempo que arde tão longo o gelo que cai
fecha os olhos e a flama desce do fundo do laranjal
laranjas secretas luzem no peito de amamentar
e a donzela sonha lentas as terras de além-mar
mornas, marfim e muamba, sedas, coxins e canela
tanta história feita em sal lhe partiu na barca bela!