quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

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sou um dramaturgo do amor
consigo mimar a morte e a paixão
a separação crua, a vívida dor
crio cenários de luxúria, bagas de paixão
abrevio rosas, corto metros na razão
enclausuro e liberto as asas do meu corpo
permaneço a mil léguas dos teus passos
em cada queda que não ouves e amordaço
com o grito do avesso, o espinho espetado
para dentro como densas brasas
desculpa se algum rumor extravasa
se perturbo a beatitude das tílias
por onde passas
não me peças que apenas pinte rosas
e ruivas bagas de beijos breves
deixa que a lonjura do beijo seja o grito
e este te autentique a amizade
não queiras ser de mim apenas público
que feliz aplaude
participa comigo na encenação montada
se hoje varejo o mundo, amanhã posso cantar
contigo uma alvorada...
não leias as palavras como monumentos álgidos
erguem-se perfis pela manhã, hoje é de mágoa
por só te ter pela palavra, amanhã será talvez
de bruma frágil, ou de rosas arrojadas
lírios acesos, romãs decepadas
razões que guardo do meu tempo
e o meu tempo é ser mulher
autêntica, complexa, dissimulada
poeticamente insurrecta contra as varas do amor
tragicamente poética na minha vivência da dor
mas não esqueças, toda a dor se relativiza
quando as palavras longínquas nos convocam
para as pedras do caminho
e as vestimos de fantasmas agrestes
nada impede a poesia de penhorar a própria morte
sabe-me bem vestir a chuva
mesmo no apogeu do sol quando talvez pudesse
despir o sol na paixão que me acresce
ah, meu amor tu não percebes como eu
espraio e recolho o sentir na minha veste
se me atentas, bebe comigo as cores do universo
não temas os escolhos que nos engrandecem
saber afastar rochedos é a melhor prece
que os teus olhos me merecem...