O quarto ganhou enfim um luar de veludo quando tu entraste, foi uma espécie de nuvem azul que iluminou o quarto, trouxeste a lua lá de fora, pergunto eu e tu sorris. A noite ainda está fria, respondes e a tua cara vem corada e feliz do passeio. Apetece-me correr para os teus braços, mas aprendi contigo a dominar os impulsos, já não sou o que era, comunicamos numa espécie de economia de palavras, muitas elipses e depreensões, quantas vezes erróneas. Somos ainda um mistério um para o outro.
E eu ando pela casa numa vgabundagem activa, sem marcas de sono, mas entendo a tua observação. Não apresso os meus intermináveis rituais de mulher, gosto de te fazer esperar, ficas normalmente rabugento, sonolento, resmungas algo contra o tédio e eu encho-me de amor nesses momentos, talvez ternura, um laço que se desata cá muito dentro e te torna aos meus olhos um menino pequenino a comprazer.
Ando pelo quarto a tagarelar disto e daquilo, incito-te, quero arrancar-te um junco de palavras com raiz e substância, fazer-te rir, colher da doçura dos teus olhos o mel de que me alimento, mas tu estás pensativo e distante. Normalmente prezo o silêncio, torna-se por vezes insuportável tolerar as conversas dos outros, mas até nisso contigo eu sou diferente. Preciso de esvaziar-me perante ti, deitar todas as migalhas de mim cá para fora, as grandes e as pequenas, mesmo as que jamais te interessarão...
O quarto fica maior quando fechamos a porta ao mundo, já reparaste? Parece que tudo se distancia de nós, que as paredes dão um passo atrás, as janelas se rasgam maiores e a cama se transforma num oceano de linho à nossa espera. No momento em que visto a finíssima camisa de noite dourada que me ofereceste, ainda mal tinha acabado de falar e sinto a tua mão a prender-me o pulso. Possessiva e úrgida. Gosto que me prendas assim e tu sabes. Do fundo do teu mutismo irracional, às vezes ostensivo, sai sempre um gesto de homem, demonstrando que dentro de ti florescem pensamentos e desejos e, mais importante que isso, que me queres na tua pele, com ansiedade. Sinto-o pelo teu gesto e isso é o que determina a intensidade com que também passo a desejar-te.
Deixo-me prender devagarinho, adoro ceder-te, às vezes ainda resisto, tento escapar-me, fugir, mas há outros dias em que a vontade de ti é tanta que não deixo que o tempo se consuma em vão. Cedo-te o meu corpo, cedes-me o teu. A cama parece voar, é espantoso como conseguimos comandar os sentidos para a viagem. Ausentamo-nos num tapete de Aladino, às vezes numa barca, outras numa tenda batida pelo vento, ou sob um dossel real, até já nos acomodámos no leito dos deuses, sendo apenas dois corpos mortais, tão peregrinos. Ah, sim, peregrinos na busca e na entrega, na voragem e na fuga para entrega ainda maior. Gosto que me incites à fuga e percebas as dicas que te dou quando quero comprazer alguma fantasia, tua ou minha.
E eu ando pela casa numa vgabundagem activa, sem marcas de sono, mas entendo a tua observação. Não apresso os meus intermináveis rituais de mulher, gosto de te fazer esperar, ficas normalmente rabugento, sonolento, resmungas algo contra o tédio e eu encho-me de amor nesses momentos, talvez ternura, um laço que se desata cá muito dentro e te torna aos meus olhos um menino pequenino a comprazer.
Ando pelo quarto a tagarelar disto e daquilo, incito-te, quero arrancar-te um junco de palavras com raiz e substância, fazer-te rir, colher da doçura dos teus olhos o mel de que me alimento, mas tu estás pensativo e distante. Normalmente prezo o silêncio, torna-se por vezes insuportável tolerar as conversas dos outros, mas até nisso contigo eu sou diferente. Preciso de esvaziar-me perante ti, deitar todas as migalhas de mim cá para fora, as grandes e as pequenas, mesmo as que jamais te interessarão...
O quarto fica maior quando fechamos a porta ao mundo, já reparaste? Parece que tudo se distancia de nós, que as paredes dão um passo atrás, as janelas se rasgam maiores e a cama se transforma num oceano de linho à nossa espera. No momento em que visto a finíssima camisa de noite dourada que me ofereceste, ainda mal tinha acabado de falar e sinto a tua mão a prender-me o pulso. Possessiva e úrgida. Gosto que me prendas assim e tu sabes. Do fundo do teu mutismo irracional, às vezes ostensivo, sai sempre um gesto de homem, demonstrando que dentro de ti florescem pensamentos e desejos e, mais importante que isso, que me queres na tua pele, com ansiedade. Sinto-o pelo teu gesto e isso é o que determina a intensidade com que também passo a desejar-te.
Deixo-me prender devagarinho, adoro ceder-te, às vezes ainda resisto, tento escapar-me, fugir, mas há outros dias em que a vontade de ti é tanta que não deixo que o tempo se consuma em vão. Cedo-te o meu corpo, cedes-me o teu. A cama parece voar, é espantoso como conseguimos comandar os sentidos para a viagem. Ausentamo-nos num tapete de Aladino, às vezes numa barca, outras numa tenda batida pelo vento, ou sob um dossel real, até já nos acomodámos no leito dos deuses, sendo apenas dois corpos mortais, tão peregrinos. Ah, sim, peregrinos na busca e na entrega, na voragem e na fuga para entrega ainda maior. Gosto que me incites à fuga e percebas as dicas que te dou quando quero comprazer alguma fantasia, tua ou minha.
Questiono-me se a própria irracionalidade, que só os meus olhos vêem, não será também algo que está inscrito nos meus pré-requisitos eróticos sem que o saiba. Gostava de falar contigo sobre o amor, depois do amor. Que rumos tomámos e porquê, que te prende mais a mim, quando me prendes, que te assalta o cérebro no momento da explosão do prazer, qual o teu último pré-aviso, o declive que tomas quando cais.
Calas-me com um beijo profundamente irracional. E eu fico sem mais palavras. Tonta, minha pequenina cerebral, anda cá. E eu vou. Por que havemos de escalpelizar o amor, quando estás aqui, a lua encheu-se de alegria, quase explode no quarto toda a superfície da lua e os nossos corpos conhecem os seus lugares no prazer, as voltas todas que o amor nos dá. Silêncio de tule, brilho de lantejoulas no olhar. Hoje quero dançar contigo, dizes. Põe aqueles sapatos altos. Só. Só? Sim, mais nada. E eu danço para ti num ritmo cortante e brusco, rodopio, quase sapateio, os sapatos calcam o soalho em cadência, o corpo fica tenso, tu sorris, vais pôr uma música e o quarto transforma-se numa imensa galáxia, um chão de estrelas. E nós dois, a rodopiar entre elas.
Boa noite!