olha, o tempo puxa-me para o cais distante
e eu vou levada pela maré mais funda
olho para trás, já não te avisto
a manhã é uma cratera ainda
no espaço raso em que te deixo
mas as minhas mãos ficam com as tuas
quero-as quentes como o sol do meio dia
quero-as doces como as de uma cascata nas serranias
quero-as leves como o linho que te rodeia
suaves como o sono que te destina
vês como o tempo nos desobedece a vontade?
mais uma manhã e eu a querer ficar
acabamos de despertar e já nos apartamos
eu a querer que fiques e me esperes
e tu que de tanto esperar já te foste
para o recolhimento das aves ou outro
lugar eterno
estendemos as mãos no momento
em que nos cruzamos, ternos no encontro
com um lago de prata a tremer-nos na voz
que calamos
tão incertos na separação que já nos espera
e tão distantes na demora que eu não sei
se alguma vez nos encontramos...
... até amanhã
(é doce velar o teu sono, tão doce...)