segunda-feira, 2 de julho de 2007

canção da demora

olha, o tempo puxa-me para o cais distante
e eu vou levada pela maré mais funda
olho para trás, já não te avisto
a manhã é uma cratera ainda

no espaço raso em que te deixo

mas as minhas mãos ficam com as tuas
quero-as quentes como o sol do meio dia
quero-as doces como as de uma cascata nas serranias
quero-as leves como o linho que te rodeia
suaves como o sono que te destina

vês como o tempo nos desobedece a vontade?
mais uma manhã e eu a querer ficar
acabamos de despertar e já nos apartamos

eu a querer que fiques e me esperes
e tu que de tanto esperar já te foste
para o recolhimento das aves ou outro

lugar eterno

estendemos as mãos no momento
em que nos cruzamos,
ternos no encontro

com um lago de prata a tremer-nos na voz
que calamos

tão incertos na separação que já nos espera
e tão distantes na demora que eu não sei
se alguma vez nos encontramos...


... até amanhã
(é doce velar o teu sono, tão doce...)