quarta-feira, 30 de maio de 2007

hortências dantes


leve e ligeiro o riso
dantes sim, havia aquele riso
de tão leve e ligeiro, o riso arava o tempo
e o tempo vinha descompassado
bater no coração
então tu vinhas ver-me e tudo era ligeiro e leve
leve e ligeiro
sobretudo a alegria de estarmos
à janela do desejo
cada poema vinha embrulhado
no brilho do olhar
secretamente ao lê-lo
éramos luminosas estrelas
roubadas a uma vida descuidada
e nada se dizia,
porque não era preciso dizer nada
agora estamos juntos
mas perdemos a inocência
das manhãs com sabor a café e a hortências
e as palavras
inscritas numa vitrine - a nossa marca de água-
a salinidade da vida levou-as
para o trilho da renúncia
somos tardios
mas eu já não te estranho
reaprendi-te aos poucos
porque eu amo-te
como se ama a neve no Inverno
o mar no Verão
e as flores na Primavera
porque eu amo-te neste Outono
do corpo,
amo-te outonal e malancólico
dos dois sou eu que ainda resisto
ao musgo que invade o dorso
e ainda ensaio o riso
ainda danço na fonte de Sienna
mas tudo que te posso dar
são grãos de areia
depois da nossa história
tão bonita, ligeira e leve
é urgente que o riso volte
a alimentar a luz que no teu corpo
se incendeia sobre a neve