domingo, 15 de abril de 2007

Sílfide



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sílfide eu sonho e corro, num bosque azul de heras nos olhos, sílaba do corpo eu serro nas mãos as penas, os passos saltam a flora do prazer, possuo asas de faisão cabelos lendários, palavras espalho na velha cítara que o vento dissemina a espaços páro e olho o mundo que fica atrás,
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os homens deixaram de amar as nuvens, as aves desertaram os homens, escalas alfanuméricas e tristes dividem os homens e na sua pele cinzenta as cidades ocupam o lugar dos corações

sílfide rarefaço as palavras e deixo-as por aí descompassadas, o ar eleva os restos de uma fauna que nem lírica foi, sem préstimo nem nada que se compare ao solo amorável que nos contém, dispo-me das palavras que fui e fico leve, da espessura de uma folha a canoa que voa mais além

sílfide eu sonho com o bosque dos prazeres e quanto mais prazer me busco, mais dentro do bosque me introduzo, em lagos perdidos cerco a minha imagem, não a vejo, nem outra que me beije, cascatas de luz arrojadamente caem em cânticos e cânones de pele próxima e o perfume desce é o ritual do despojo e eu vou, que seja pois a derradeira flauta que Pan me toca

sílfide já de mãos vazias, ajeito as nuvens moldo-as em formas de gente, faço laços com o vento, as larvas levo a glauca paisagem que me perde e... ai, que sílfide sendo, espírito letal e passageiro de um presente que nunca foi, agora mesmo à forma de Ar volto, como fui, e nunca mais Alguém serei.
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