pedras adivinho pelos montes
urzes zumbidos e fontes
fragas crespas onde rios rasgam rochedos
e não há vozes, nem gente, só bruxedos
nesta paisagem de ninguém
é lá que eu vivo e me acoito
estando cá sou uma pasta organizada
e quem me vê só me vê o corpo
carrego o peso do expediente e sou expedita
sorrio à gente aprumada como a uma confidência
não completa e nunca dita, mas nada existe que eu veja
e me apareça coisa rara e magnífica
nada iguala o voo da ave
o rastejar do bicho na colina
sou uma pedra entre o sonho e a vida
rolam-na o vento e as feras enfurecidas
e eu deixo-me levar pelo acaso
felizes os que descem a montanha sem saber
os que se afundam no vale sem saber
os que sabem abraçar o húmus e o musgo e
as flores selvagens e os fungos
e no entanto permanecer à tona do mundo
.
Que o sol vos ilumine hoje
Bom Domingo
e
(...)