todos os dias regularmente aconteces
como acontecem os factos manchados de tinta
no jornal comprado ali na esquina
à noite regressas num manto de neve
e em todos os momentos mais me cresces
como apêndice secreto dos meus dias
mas não sei dizer o quanto me és breve
no feitiço da carne apenas a carne entorpece
e a noite sem morrer vazia, brevemente nasce
sobram dela estas sombras esbeltas
de um corpo recortado na manta da morte
arrebatadoramente alerta a estética do amor
leito luarento demorado invento fulvo peito ninho
todos as noites me aqueces no teu frio abrigo
cada manhã recresces como ínvio lírio
e eu liminarmente colho o lento veneno
vagueio e desvario divago e tresleio
prende-me a palavra no prado ao pé do vento
e eu pasto a paz de te saber tão dentro...