sexta-feira, 30 de março de 2007

ao poente




eis em queda a luz
luzente e púrpura

que num ápide a tarde aloura

a fala do universo verte
em flâmulas pelos telhados
esfranjados reflexos
de cores que nascem mais cedo
e mais abertas

vivas como pássaros
de cânticos secretos,
douradas sombras sobem

sobre árvores e gente,
e cedem-lhes
o brilho das maçãs vermelhas
de rosadas faces
nos laranjais do horizonte


um clamor profundo de silêncio

cresce em alvoroço
nas asas dos pássaros dementes
pelo sangrento adeus do sol ao mundo


é na luz submissa incandescente
que o sol possui a terra
numa cama de nuvens
rubras nubentes

o céu jubiloso
ejacula os últimos gemidos
para o mata borrão de veludo
que abosrve no monte

a derradeira hora

e é neste forno profundo
de um amor ardente
e mudo
que coze devagar o meu poente

de memória


Boa noite!