domingo, 8 de maio de 2011

a porta que dá para dentro

oculto nos olhos da noite
sei-te no campo de visão da eternidade
é uma projecção dos sentidos que me faz ir longe 
até ao rasgão da noite onde te ocultas
para te entrar por dentro
e te tomar tanto, como quem sacia de vez
a sede e o pranto

meu amor, enquanto nos perdurar na pele o lume e a neve
pode não ser tarde para fecharmos devagar as portas que se abrem
uma a uma emparedados, não há janela para o teu pátio
de ti não alcanço o vulto, só as palavras
mas podemos ir fechando devagar as portas que se abrem

fecha com ternura o passado
já é tão tarde
fecha o tempo de hoje,
adormece os conceitos que nos fazem

o que for há-de abrir-se à tua
ou à minha passagem
fecharemos também a porta que der para dentro
somos tão frágeis

se nada mais nos resta
a não ser uma imagem
então dá-me mais e muito mais
das coisas que te fazem

fechar-me-ei contigo por dentro,
como um fetiche serás tu a minha última página
e guardarei teus todos os objectos:
a pena, a espada e a asa de ouro
que te levou de viagem