sexta-feira, 8 de abril de 2011

o nosso mundo


visitamo-nos através do ar. a noite agora é mais ampla e menos trivial. recolho-me num banho e depois na cama fresca, a camisa aberta, seda e folhos, o corpo exausto. tenho muitos anos, sabes, tantos que me parece ter vivido o mundo inteiro dentro desta vida,  e outros ainda, se mais houvesse. acolho sonhos, mas não devia, bebo contigo do mesmo copo de solidão e de euforia. acerto o meu pulso pela tua hora e ganho contigo o mesmo naco de céu todos os dias, mas não devia. tenho nas mãos um mundo de ilusão que é teu e tu carregas outro que eu te dei. não devíamos. é tão frágil o vidro que nos separa que um dia fica-nos em estilhaços nas mãos. confio em ti. como nesta almofada macia, tenho em ti o meu mundo e a segurança de te ter. confias em mim. podes prender fortemente o nosso mundo, nas tuas mãos. aí e só aí sou bela e flor. ajuda-me a não deixar cair um só fruto desta árvore. tu, a presença. um dia, ao virar da realidade, podes ser tu e não és. e eu posso ser eu, mas não sou. e no entanto há vestígios de pó louro das estrelas no fundo distante do teu olhar.