são ternas sombras as manchas do teu murmúrio
quando me sopras luminosas árias de arabescos genuínos
pintados com a tinta da china dos teus olhos
negros, os teus olhos, caminheiro
carvões em centelhas de alumínio puro
no tabernáculo da noite cego e a prumo
da máxima penumbra astral oculta ao mundo
são ínvios os momentos - não os sei descrever
como o fazes tu - com a leveza das lamparinas
e a chama a oscilar ao menor sopro da tua alma
é uma almofada doce que se leva à face
com volúpia e dor - arde-se por dentro de tão...
tanto, e de tão... pouco
trepas-me dentro com a generosidade dos olhos
e eu sinto-te a povoar a casa (lembras-te da casa?)
era de sal e vivemos nela a ausência de vida
e a pulsão da morte: havíamos de morrer um no outro
na verdade começámos a escrever paulatinamente
o muro do distanciamento - a casa e o lume, lá dentro
a luz detrás de um cortinado denso - e nós com tantas,
tantas asas de voar e desejos de chegar...
agora são ternas as luzes do parapeito
elevam-se na noite, como pirilampos ardentes
não há casa, mas há um lugar de clima temperado
os teus braços, que são âncoras presas
e fundeiam a leveza das palavras escritas no vento
e ouvidas por dentro - és ainda o rio e
és o leito
e eu moldo-me à corrente,
suavizada e meiga
pelo abraço perfeito