domingo, 3 de abril de 2011

começo a manhã a ouvir a música dos outros, uma invasão intolerável no meu espaço. é Domingo e a africana do andar de cima espraia a sua saudade, invadindo o bairro com os seus batuques rebolados. calo-me e recolho-me a um silêncio contrariado. não sou desmancha prazeres. espero que lhe passe. não sou uma pessoa ruidosa. de tão discreta, deixo que todos me ultrapassem pela esquerda, pela direita, pelo meio. não nasci para ganhar. serei ganha por alguém, serei utilizada por alguém, serei útil a alguém, serei plagiada, despojada. e depois esquecida. e nesta passividade, assisto sem rumor ao devir da minha vida. o que me importa é não ficar, agora, despovoada a meio de uma palavra, uma linha acima da vida.