quinta-feira, 31 de março de 2011

a-ventura


viajo no império persa, entre tempos de sedas e coxins
visualizo as fontes nas altas moradias interiores
quando os homens corajosos rasgavam espaços
combatiam serpentes e ditadores
e rasgavam multidões alastrando como onda
pelas muralhas de pedra dos povos em redor

tantas aventuras!

deixa-me viajar hoje mais longe.
quero ter lábios de púrpura e a voz em seda e flor
vestir algodão e pedras cravadas no olhar

deixa-me ser o cavalo e a vasta tundra
e deslizar a liberdade na longa lonjura
e, como um peão num jogo de xadrez,
capturar a torre e a rainha e o bispo,
todos de uma só vez

deixa-me ser qualquer coisa que não seja
só ser o ser que sou sem ser seriamente alguém
ou alguma coisa

ataviar-me de luar, num quadro de Van Gohg
cruzar o vento e o ódio no monte dos vendavais
para achar o amor nos anéis de saturno
ou nos montes longínquos dos Urais

deixa-me saltar para o fundo do deserto, sim
do outro lado das areias, existe outro mundo,
por certo - onde Alice nunca foi vista -

mas há cantos de sereias serenados p'las palmeiras
uma tenda de mil e uma palavras de amor e derradeiras
risos no reino desaparecido das auroras
e das histórias no limite estremecidas
entre iguarias, chá e amoras 

faz-me narrativa, sim, eleva-me ao lugar de heroína.
quero hoje um colar de madrugadas e pérolas de rosas finas
amanhã havia de querer o resto e assim a morte, o mundo,
o medo, a manhã escura e todo o mal do universo,
enfim, (porque existes) já não (nos) procura