somos diferentes,
se eu vejo azul, tu vês verde
se eu vejo vaga tu vagueias
e vês nuvem onde há areia
somos diferentes,
e depois?
que interessa que vejas alma
onde eu vejo apenas corpo
se Sancho e Quixote
de tão opostos
faziam brilhar o presente
sem pôr em causa o futuro
somos diferentes,
mas que razões há a opor?
se quando a tristeza nos vem
logo nos tange o amor
se quando o silêncio nos cresce
logo um de nós se acentua
somos diferentes? quem diria?
se quando nos olhamos de frente
vemos a mesma alegria
se quando a solidão nos morde
ouvimos a mesma harmonia:
um longo e límpido acorde
que nos deixa em sintonia
num beijo que nos envolve
somos diferentes?
Que sorte!