domingo, 6 de março de 2011

podia ser chuva miudinha como pérolas de orvalho
silêncio sideral, o fogo dos astros

podia ser a chegada de um bando de aves que viesse
em lugar da Primavera
ou um sopro de morte que passasse

podia ser uma música vinda de outras heras
para trazer um feixe de memórias

mas algo me tocou com as suas asas

pareceu-me que a minha solidão era mais funda
nesta noite de empenas tantas
nesta esfera fechada em que me esperas
quando a noite se acrescenta longa e inteira

mas foi só por um momento
existes, mas não te tenho, nem te entendo

existo, mas não entendes a rede de palavras
nem percebes os intervalos que se abrem
pouco sabes na tua arte de adivinhar as brumas

eu, nada sei, nem o teu nome, nem o teu rosto sequer
nem a forma como ris, ou se abraças outra mulher

só sei que as rimas de tão óbvias
ocupam o espaço todo do dizer

podia ter sido um palavra terna, ou um suspiro
de tanto que não digo

mas saiu uma trança grosseira e sem sentido
um verso sem asas nem suaves melodias

quando afinal o que sinto é que por vezes
não te sinto real e verdadeiro
mas mais a rara expressão de um mito

mas repousa em mim o teu olhar,
meu querido, dorme que eu velo hoje
para que o teu sono te leve ao lugar
onde tudo isto adquira o seu verdadeiro sentido