Fiquei na beira do caminho, algo exausta, despenteada, sim, os pés doridos e a fala presa de tantos passos dados e murmurados, um saco aberto de pensamentos, poemas dispersos que eram preces, pedidos e intenções suavemente debruadas, a expressão de cada momento em que o meu pensamento voava para ti e sim, sabia que um dia haverias de seguir os meus traços e podias até alcançar-me, ou chegar primeiro, por isso fiquei na beira do caminho, com a minha vida aberta ao teu olhar e é como um lago sem fundo, mas onde ainda assim é possível vislumbrar a transparência de algo que lá jaz, um amor longínquo no tempo, inadajectivável por palavras conhecidas, eivado de uma linguagem inarticulável, porque não há palavras para um amor genuíno, quando o vemos e permaneceu por anos e anos eivado de uma árida espera sentada no olhar e é por isso que podia dizer-te que já não estou cá, que já fui, ou que ainda sou, mas parti, ou que não parti, mas já não estou, mas não é verdade, ainda tenho o olhar sentado no horizonte e ainda o meu saco extravasa de emoções, só não sei se sei dizê-las como antes, embora as sinta como jamais. De um só fôlego, com a força da água pura que vem e depois vai, mas volta sempre ao lugar de onde provém, num ciclo inadiável de (te) querer (bem) .