sábado, 24 de outubro de 2009
marcas
contavam-se os dias
pelas planuras das mãos e pelos horizontes
mitigados, não havia um disco rígido com a
nossa vida toda empinhada e arrumadinha em pastas.
havia a renda, o bordado, o tricot, o cesto de vime e então dizia-se: fiz esta camisola quando o meu filho mais velho nasceu, ou estava tão animada quando comecei a bordar este lenço... ficavam provas reais além da vida.
era depois a tapeçaria que a minha avó me deixou, o cortinado bordado com penas de pavão e uma chinesa de sombrinha às costas...
agora o tempo tem outras marcas. cada Outono que vem traz o mesmo padrão: bordado igual, os mesmos pontos formando frases, os mesmos motivos impressos no texto, a mesma melancolia, o mesmo fulgor da natureza, a mesma queda imensa de tudo que antes era alguma coisa...
bom fim de semana