vive-se em paz no deserto, nunca soube fazer ver a ninguém que a aridez se nutre de sais e de tojos secos que já foram seiva e guardam ainda o seu sabor. não soube trazer outros ao meu deserto, talvez não seja aqui que se plantam as coisas fluentes da vida, não haja a animação das cidades radicais, o remoinho das estações, ou talvez, sei lá, eu seja assim um ser não alinhado, alheio às ambições consubstanciadas em plasmas hipods, um ser sem afinação com o presente, sem temporalidade nos deíticos da fala.
é verdade que nunca ninguém consegue dizer o que está para além do olhar. portas fechadas, só os seres palavrosos afinam o verbo com a vertente de onde lhes sai a fala. os seres que olham não dizem. eu olho. aplano o meu deserto pela mão das nuvens que se amotinam no céu. gosto de as ver chover sobre sobre o pó. gosto de ver a água a infiltrar-se enchendo-me as veias de luz. um ouvido habituado a categorizar silêncios consegue até ouvir o movimento das areias semeadas no vento, a terra a gastar-se e a respirar sempre por dentro, ou o ruivo encandescer do sol, quando este se deixa cair na terra, talvez já ávido do seu ventre, ou de apenas se apagar nela.
no deserto são até sinuosas as dunas, sibilinas as entradas do vento, secretas as palavras que gritam o mesmo padrão de intensidade e timbre, já há tanto tempo. tudo é imemorial no deserto, até a presença, a sombra, a ave, é como na vida, em que toda a presença é já um lugar de impermanência.
é verdade que nunca ninguém consegue dizer o que está para além do olhar. portas fechadas, só os seres palavrosos afinam o verbo com a vertente de onde lhes sai a fala. os seres que olham não dizem. eu olho. aplano o meu deserto pela mão das nuvens que se amotinam no céu. gosto de as ver chover sobre sobre o pó. gosto de ver a água a infiltrar-se enchendo-me as veias de luz. um ouvido habituado a categorizar silêncios consegue até ouvir o movimento das areias semeadas no vento, a terra a gastar-se e a respirar sempre por dentro, ou o ruivo encandescer do sol, quando este se deixa cair na terra, talvez já ávido do seu ventre, ou de apenas se apagar nela.
no deserto são até sinuosas as dunas, sibilinas as entradas do vento, secretas as palavras que gritam o mesmo padrão de intensidade e timbre, já há tanto tempo. tudo é imemorial no deserto, até a presença, a sombra, a ave, é como na vida, em que toda a presença é já um lugar de impermanência.