quarta-feira, 20 de maio de 2009

Eros e Psiché II



Esta é a noite dos deuses e faunos

silfos luminosos andam por atalhos

rosas ebúrneas em seios aromáticos

murmúrios moços moram nos silvados

Eros que procura o elixir do prazer

a mortal amada aspira o seu odor

sem olhos nem mãos não o pode ter

mas seu corpo cresce para o seu senhor

jubiladas dores nascem do castigo

Psyché tresloucada deixa-se tocar

entre beijos roucos rosas de prazer

murmúrios de fogo abraços de trigo

os amantes gozam os esponsais serenos

nos céus desenhados como sólios seus

no ventre a vaga dor de onda que vem

na voz o grito verte o corpo mais além

muito além da morte, muito além do céu

Psyché tira o lenço para beber o rosto

Eros amanhece triste e desgostoso

Psyché exilada estende as mãos de noite

agora tem vista, tem voz e tem gestos

mas não tem já a mão de Eros no corpo

Esta é a noite leve dos loucos amantes

apartados seres da sede dos corpos

sem serem deuses moram no céu um do outro

a alma anda errante no bosque do sono


(Um tema recorrente em mim. Já publicado não sei bem onde. Quando eu escrevia assim...)