
passo contigo o vagar do tempo,
passo-o junto ao teu coração laço
à tua mão abandonada sobre o corpo
ao livro que soletras com os olhos
de tanto que o já leste
tempo vivido, veste que nos vestiu por dentro
e por inteiro nos rasgou as frases
filhos de um vento volumétrico
daqueles que sopram num caudal vagaroso e pálido
que arrasta toda a pulsão do universo
verbo veneno alojado sob a língua
violetas enigmáticas nos vislumbram
vemo-nos quando as estrelas adormecem
e os lírios despertam, vemo-nos perto
onde a noite aclara os montes e as fontes crescem
vimo-nos na multidão,
e ao primeiro verso
despejamos canhões de flores
formas diversas
entre a multidão, gestos dispersos
setas às vezes coroavam os poemas
frestas entrearbertas entre as sílabas
arfar de lume entre os fonemas
passo contigo a véspera do dia que não vem
vivo contigo a madrugada e sento-me, mulher,
no lugar de ninguém
e fico no passal da distância, tão perto
que afloro a linha perdida do pensamento
talvez ele também suspenso, como eu,
numa perturbação intensa!