
os momentos que erigimos
com as nossas mãos
as ruas trauteadas pela boca
os beijos percorridos pela pele
as pedras que abraçámos
entre rios e rosas perplexas
meu amor, a tensa espera
do meu corpo
nunca esmorece
mas, enleio do silêncio,
a razão é a mais certa veste
reflexos de paixão
são os sinais da íntima ascese
a morte que esmagamos
na ponta hirta de cada verso
na lentidão infinita da entrega
na fuga pelos bosques de flora acesa
ou de viva neve
são reflexos de paixão
que nem lugar nem espaço teve
mas existe em verve iridiscente
sob a pele tumultuosa do meu ventre
reflexos de paixão, esta escrita
no deserto das minhas incertezas...
ler-me-ás como quem me beija
letra a letra?
ouvirás comigo a música
do outono
o lento parêntesis da voz
que só o amor ouve
a luminosa fuga das mãos
para modelar no silêncio
o sonho que nunca houve
mas sentimos hoje?
ah, meu amor, meu mais puro instante
quando te penso, o mundo desprende-se
a pele resplandece, a vida retrocede
para um alçado entre a pele e o tempo
a íntima flora que cresce apenas por dentro...
Bom dia. Quanto sol e quanta vida!