domingo, 5 de outubro de 2008

interior

interioridades nossas
um certo céu de incenso
uma tarde cercada de rosas
e nos sentidos sobrevoam
leves mariposas

interior da vida
cintura acesa, ilha fecunda
de flora adormecida
lugares onde a ave se esconde
a ave ferida
que nos pousa a pele,
na ausência de um abraço
em carne viva...

o sopro do olhar
nas águas esmaecidas
tudo é argênteo e calado
como água pura num rio
subterrâneo
não nos é dado o tempo
que gastámos a buscar
a mesma paz, o mesmo ombro
o mesmo silêncio
conserntâneo

estou no meio do rio
e a minha vida é íngreme
e veloz
quero parar o rio
com as minha mãos
quero que o rio me inunde
com a sua paz, o seu flanco
agudo, em escarpas fundas

e as águas que antes louvávamos juntos
agora nos reúnam no mesmo fundo
abraçados, como peixes transparentes
luzidios, arrebatados
nos limos e areias primordiais
de um novo mundo