guardo-te o íntimo momento, quando a noite esmorece na cidade. fecho-me, quando só o vendaval ainda nos acomete e tudo é um promontório, quase um braço estendido e lesto ao fundo de ti. cultivo a intimidade do momento. poderia ouvir-se agora um cicio, um deslumbramento de palavras lânguidas. como um resguardo em nossa volta há o silêncio. movem-se as ancas brandas na superfície do sonho, como asas que tenhas nos flancos e voes de crinas ao vento. vibrátil sensação esta do vento, quando aconchega corpos distantes, quando insufla um vago medo que emerge de tão longe. talvez da infância e das noites que toureámos sós em pesadelos de infantes. hinvernia na pele, fustiga-nos um tremor que gera a busca. envergamos juntos as borrascas, as perdas, as lutas, a solidão quando nos insufla no sangue a vontade expressa da vida. é uma envolta de lã que nos rodeia. sei que o silêncio me abraça e que algo de muito doce me sobe ao peito e me inunda. poderão ser nós com o universo, com a arquitectura do mundo, ou nós que nós prendemos na órbita próxima de um astro. magnetismo no sangue que nos sucumbe. falo por ti, porque se existes e estás nalgum lugar ligado ao mundo, saberás decifrar as amarras do meu corpo. porque és tu o nome que busco, o nome que me cumpre por inteiro.
um beijo...
um beijo...