segunda-feira, 29 de setembro de 2008

vem vindo o vento

vem vindo o vento e a chuva violenta
vem tao vivaz a vária mudança
e é tão abrupto o eco das palavras
tal como lanças na noite de alcatrão
que eu sinto agudas a palavras
que gravo na palma da tua mão

vem tão veloz a viuvês da noite
e o sol acama-se tão mais cedo
entre o lençol de nuvens, sem desejo
que eu fico na vidraça muda e frágil
a receber os golpes pardos do medo

assusta o dilúvio que abre os céus
assusta a chuva não ser de enleios
assusta que as palavras não sejam leves
tal palha doirada dos celeiros
mas sim trovões aliterados
vetustos, abruptos e certeiros

assusta que a minha voz já não te fale
nos saraus de poesia em media player
que a suspeita do teu nome me não venha
nos passos que já não ouço chegarem

assusta que o meu corpo se detenha
que as tuas mãos me não planeiem tua
assusta o silêncio entre as árvores
assusta a escuridão velha da Lua

não me assusta porém a poesia
que ela seja a renda do meu rosto
o véu que me vela o olhar neste momento
em que todas as palavras se me ausentam
míseras num outono de invernia

e porém é tão serena a chama que me abriga
e porém, esta lacuna, tão cheia, tão preenchida
e porém este luar que guardo mesmo à chuva
o eco antigo da cadência estremecida
a lagoa onde pousam, meu amor, dois cisnes
símbolos tristonhos do que foi a nossa vida...

beijo-te com um misto de ternura e amor
e ofereço-te este poema...