como dizer-te que nem sempre te conheço
nem sempre te desejo, nem sempre te pressinto,
nem sempre te ouço, nem sempre te agudizo,
nem sempre te cumpro, nem sempre te disponho,
nem sempre te rumo, nem sempre te empenho,
nem sempre te presumo, nem sempre te compreendo,
nem sempre te assumo, nem sempre te consinto,
nem sempre te murmuro, nem sempre te vejo
nem sempre te armo e desarmo e demoro
no sigilo do meu corpo, mas sempre te recordo
como uma dor amputada de um membro
que cessou. como dizer-te que te duvido
porque não te ouço, como dizer-te
que a minha imaginação me falhou, que a aridez
de uma vida vaga de um vazio no corpo
de uma baga amarga na boca me tornam
incrédula de ti, inusitada e tola
neste jogo de suposições em que me suponho envolvida
inalada, soprada, asseverada, vertida em sal na boca
podendo a tua palavra que não ouço
conter o mundo e muita coisa
ou ser apenas uma margem próxima e um eco
de musa
sou um corpo em pó e não tenho nome na tua boca
a tua incorpórea mente invoca em mim a Mulher
que me povoa
não sou eu que tu queres
mas a essência da espécie que me sobrevive
e eu remendo o tempo por dentro
como uma tecedeira sem fios de luz
bordo o momento com as veias
que por vezes me viajam mais vivas
e é apenas a minha paz que me posiciona
na posição da partida
e é somente a minha persistência em manter-me viva
no teu limpo lago azul
que me transporta para o cais de cada chegada...
aqui estou, com um beijo no olhar
.