tundra
a minha escrita é nómada
como tojos e cardos
arrastados sem piedade
pelo vento do deserto
não tem fases da lua
a minha escrita
é rouca como uma concha vazia
que guarda ainda a rota do mar
escrita que muda a maré, amansa,
regride e reentra a palavra e a fé
hoje há um vento de dúvida
que arrasa os contrafortes do penhasco
e eu protejo-me
entre as dunas vulnerável
sem num canto obscuro
para sonhar
voltará o brilho
das areias ao denso areal
voltaremos ilesos
à pedra pura
ao prado inicial
mas hoje deixa-me chorar
o medo que me faz a tundra fria
o ódio a estampa negra
o lado adunco do luar
que por vezes,
sem eu querer
me inscreve a fala
no frio metálico da vida